BLOQUE ZONA LIVRE em Construção

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sexta-feira, 3 de abril de 2009

Passagens da Guerra Revolucionária - Altos de Conrado

, por Cmte. Che Guevara

Os dias seguintes do combate de Mar Verde foram de febril atividades, oconvencimento de que ainda nossas forças não tinham a capacidade combativa suficiente e para organizar lutas contínuas ou cercos eficazes, nem para resistir ataques frontais, fazia que se extremassem as precauções no Vale de El Hombrito.

Quatro ou cinco dias depois do encontro de Mar Verde, se deu a ordem de alarme de combate, avançavam as tropas de Sánchez Mosquera pelo caminho lógico, e que vai diretamente de Santa Ana a el Hombrito. Avisou-se imediatamente às emboscadas e se checaram as minas. Estas primeiras minas fabricadas por nós tinham uma rudimentar espoleta feita com uma mola e um prego que, ao liberar-se, impelido pela mola golpeava o detonador, porém, não tinham funcionado na emboscada de Mar Verde, e esta vez, também pouco funcionaram.

Retiramo-nos lentamente pelo caminho que vai na direçao de altos de Conrado. O lugar era magnífico para fazer uma emboscada, ali somente podia-se chegar por três estreitas sendas ondulantes pelos firmes das colinas, muito arborizados e, portanto, muito fáceis de defender, todo o resto está definido por rochedos abruptos e por ladeiras igualmente abruptas, sumamente difíceis de escalar.

Num lugar onde há uma pequena furna, o caminho se abre. Ali preparavam as condições para resistir o ataque das forças de Sánchez Mosquera. E também desde o primeiro dia, no fogão da casa, colocamos duas bombas com seus estopins, a armadilha era muito simples se nos retirávamos provavelmente eles ficariam na casa e usariam o fogão. No meio das cinzas, cobertas totalmente por elas, estavam as duas bombas, calculávamos que o calor do fogo ou alguma brasa que se pusesse em contato com os estopins, as faria estourar fazendo uma boa quantidade de baixas, mas, naturalmente, esse era o recurso posterior, primeiro havia que lutar nos Altos de Conrado.

Ali estivemos pacientemente esperando, durante três dias, fazendo guardas constantes as 24 horas. As noites eram muito frias e úmidas a aquelas alturase naquela épocado ano, realmente, nem tínhamos a preparaçao necessária nem o hábito de passar toda a noite em posiçao de combate à intempérie.

Meu posto estava a uns vinte metros em uma posição oblíqua, atrás de um tronco que me protegia a metade do corpo e apontando diretamente à entrada da estrada onde vinham os soldados. Alguns companheiros e eu não podíamos olhar no primeiro momento, pois estávamos num lugar descampado e seríamos visiveis; deviámos esperar que Camilo abrisse fogo.entrevendo, contra a ordem que eu mesmo tinha dado, pude apreciar esse momento tenso antes do combate em que o primeiro o primeiro soldado apareceu olhando desconfiado a um e outro lado e foi avançando lentamente. De verdade, tudo ali cheirava a emboscada, era um espetáculo estranho a paisagem, o espaço descampado com um pequeno manacial corria constantemente, no meio da exuberância da floresta que nos rodeava. Escondi a cabeça esperando o começo do combate; soou um disparo e em seguida se geralizou o fogo. Depois inteirei-me que nao tinha sido Camilo o que disparou; Ibrhim, nervoso pela espera, disparou antes do tempo e em poucos instantes tinha-se generalizado o tiroteio, embora, na realidade de cada posto de observação se podia ver muito pouco. Nossos tiros isolados com pretensões de levar a morte em cada um e os disparos da soldadesca, dilapidados em longas rajadas, “juntavam-se, mas não se misturavam“, reconhecendo-se num e outro ruído a identidade de quem os fazia. Aos poucos minutos, cinco ou seis, se sentiu sobre nossas cabeças os primeiros assovios de morteirosou bazucas que disparavam os soldados, mas que passavam de longe.

De repente senti a desgradável sensação, um pouco como de queimadura ou da carne dormente, sinal de um balaço no pé esquerdo que não estava protegido pelo tronco. Acabava de disparar com meu fuzil, simultaneamente com a ferida ouvi o estrépito de pessoas que avançavam rapidamente sobre mim, partindo ramas, como a passo de carga. O Fuzil não me servia, pois acabava de disparar, a pistola, ao estar estirado no chão tinha caído, ficando debaixo do corpo e nao podia levantar-me porque estava diretamente exposto ao fogo do inimigo. Revolvendo como pude, com desesperada celeridade, cheguei a empunhar a pistola no mesmo momento em que aparecia um dos nossos combatentes de nome Cantinflas. Sobre a angústia passada e a dor da ferida, interpunha-se de repente o pobre Cantinflas, dizendo-me que se retirava porque seu fuzil estava encasquilhado. O tomei violentamente das mãos enquanto se agachava a meu lado e examinei seu Garand, somente tinha o clipe levemente de lado e isso tinha entravado. Eu o compus com um diagnóstico que cortava como uma navalha: “você o que é um cafageste”, Cantinflas, Oñate de sobrenome, o fuzil e incorporou-se, deixando o refúgio do tronco, para esvaziar seu pente de Garand em demonstração de coragem. Porém, não pôde fazê-lo completo porque uma bala pentrou-lhe pelo braço esquerdo saindo pela omoplata, depois de cobrir uma ciriosa trajetória. Já éramos dois feridos no mesmo lugar e era difícil retirar-nos sob o fogo, tínhamos que deslizar sobre os troncos da tumba e depois caminhar debaixo deles, feridos como estávamos e sem saber do resto das pessoas. Pouco a pouco o fizemos, mas Cantinflas ia desmaiando e eu, que apesar da dor, podia mover-me melhor, cheguei até onde estavam os demais para pedir ajuda.

Se sabia que tinha alguns mortos entre os soldados, embora nao o número exato. Depois de resgatados os feridos (nós dois)nos fomos afastando até a casa de Polo Torres, dois ou três quilometros Maestra abaixo. Depois de passado o primeiro momento de euforia e a emoção do combate, a dor cada vez era mais intensa impedindo-me de caminhar.

O tiroteio tinha já cessado e nós supusemos que já tinham tomado os Altos de Conrado. Estabelecemos os postos para detê-los na beira de um pequeno arroio no lugar batizado por nós com o nome de Pata de la Mesa, enquanto organizávamos a retirada dos camponeses com suas famílias e enviávamos a Fidel uma comprida carta explicando os fatos.

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