BLOQUE ZONA LIVRE em Construção

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quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Passagens da Guerra Revolucionária - Combate de La Plata (Primeiro Combate Vitorioso)

Agosto- mês Cmte. Fidel Castro








Contada por Cmte. Ernesto Che Guevara

O ataque a um pequeno quartel que existia na desembocadura do rio de La Plata, na Sierra Maestra, constituiu nossa primeira vitória e teve certa ressonância, mas distante que a abrupta região onde se realizou. Foi um chamado de atenção a todos, a demonstração de que o Exército Rebelde existia e estava disposot a lutar e, para,nós, a confirmação de nossas possibilidades de vitória final.

No dia 14 de janeiro de 1957, pouco mais de um mês depois da surpresa de Alegría de Pío, paramos no rio Magdalena. Ali fizemos alguns exercícios de tiro, ordenados por Fidel para treinar algo às pessoas; alguns dispararam pela primeira vez na sua vida. ali tomamos um banho também, depois de muitos dias de ignorar a higiene e, os que puderam, mudaram suas roupas. Naquele momento havia vinte e três armas efetivas; nove fuzis com olho mágico telescópio, cinco semi-automáticos, quatro de ferrolho, duas metralhadoras Thompson, duas pistolas metralhadoras e uma espingarda calibre 16. À tarde desse dia subimos a última colina antes de chegar às imediações de La Plata. Seguíamos um estreito trilho da floresta transitado po muito poucas pessoas e marcado especialmente para nós a força de facão por um camponês da região, chamado Melquiades Elías. Este nome nos foi dado por nosso guia Eutimio, que nesse tempo era imprescindível para nós e a imagem do camponês rebelde; mas algum tempo depois foi capturado por Casilla, quem em vez de matá-lo comprou a oferta de $10.000 e um grau no exército se matava a Fidel. Esteve muito próximo de sua tentativa, mas lhe faltou valor para fazê-lo; porém muito importante foi sua ação, delatando nossos acampamentos.

Naquela época, Eutimio nos servia lealmente; era um dos tantos camponeses que lutavam por suas terras contra os latifundiários da região, e quem lutasse contra os latifundiários, lutava ao mesmo tempo contra a guarda que era a servidora daquela classe.

durante o caminho desse dia, levamos prisioneiros dois camponeses que resultaram ser parentes do guia: um deles foi posto em liberdade mas o outro foi retido, como medida precautória. O dia seguinte, 15 de janeiro, avistamos o quartel de La Plata, a meio construir, com sua lâminas de zinco e vimos um grupo de homens semi-nus nos quais se adivinhava, no entanto, o uniforme inimigo. Pudemos observar como, à seis datarde, antes de cair o sol, chegava uma lancha carregada de guardas, descendouns e subindo outros. Como não compreendemos bem as evoluções decidimos deixar o ataque para o dia seguinte.

Desde o amnanhcer do dia 16 começou a observação do quartel. Tinham retirado o guarda-costas da noite; se iniciaram trabalhos deexploração mas não se viam soldados por nenhuma parte. Às três da tarde, decidimos ir aproximando-nos ao caminho que sobe do quartel bordejando o rio para tratar de observar algo; ao anoitecer, cruzamos o rio La Plata que não tem profundidade nenhuma e nos colocamos a caminho; aos cinco minutos, levamos prisioneiros dois camponeses. Um dos homens tinha alguns antecedentes de informante; ao saber quem éramos e ao expressar-lhes que não tínhamos boas intenções se não falavam claro, deram informações valiosas. Havia uns soldados no quartel, aproximadamente uns quinze, e, além disso, pouco depois devia passar um dos três famosos maiorais da região: Chicho Osório. Estes maiorais pertenciam ao latifúndio da família Laviti que tinha criado um enorme feudo e o mantinha mediante o terror com a ajuda de indivíduos como Chicho Osório. ao pouco tempo, apareceu o nomeado Chicho, bêbado, montado em uma mula e com um pretinho a cavalo. Universo Sánchez, lhe deu alto em nome da guarda rural. e este rapidamente respondeu: "mosquito"; era a senha.

Apesar de nosso aspecto patibulário, talvez pelo grau de embriaguez desse sujeito, pudemos enganar Chicho Osório. Fidel , com ar indignado, lhe disse que era um coronel do exército que vinha investigar por que razão não se tinha liquidado já os rebeldes, que ele sim se metia no monte, por isso estava barbudo, que era um "lixo" o que estava fazendo o exército; enfim, falou bastante mal da atuação das forças inimigas. Com grande submissão, Chicho Osório contou que, efetivamente, os guardas passavem bem no quartel, que só comiam, sem agir; que faziam percursos sem importância; manifestando enfaticamente que havia que liquidar todos os rebeldes. Começou a fazer discretamenteuma relação das pessoas inimigas e inimigas da zona, perguntandopor elas a Chico Osório. Perguntou-lhe Fidel o que faria ele com Fidel Castro no caso de prendê-lo, e então respondeu com um gesto explicativo que havia que partir-lhes os... igualmente opinou de Crescencio. Olhe, disse, mostrando os sapatos de nossa tropa, de fatura mexicana, "de um desses filhos de.... que matamos". Ali, sem sabê-lo, Chicho Osório tinha assinado sua própria sentença de morte. No final, ante a insinuação de Fidel, assentiu a guiar-nos para surpreender a todos os soldados e demostrar-lhes que estavam muito mal preparados e que não cumpriam com o seu dever.

Aproximamo-nos em direção ao quartel, tendo como guia Chicho Osório, embora pessoalmente não estava muito certo de que aquele homem já não tivesse percebido o estratagema.

Seguiu porém com toda a ingenuidade, pois estavatão bêbado que não podia discernir; ao cruzar novamenteo rio para aproximar-nos do quartel, fidel disse-lheque as ordenanças militares estabeleciam que o prisioneirodevia estar amarrado; o homem não oôs resistência, seguiu como prisioneiro, embora sem sabê-lo. Explicou que a única guarda estabelecida era uma entrada no quartel em construção e a casa de outro dos maiorais chamado Honório, e guiou-nos até o lugar próximo ao quartel por onde passava o caminho ao Macío.

Tínhamos preparado o ataque com vinte e duas armas disponíveis. Era um momento importante, pois tínhamos poucas balas; havia que tomar o quartel de todas as maneiras, o não tomá-lo significava gastar todo o parque, ficar praticamente indefesos. O companheiro tenente Julio Díaz, caído gloriosamente em El Uvero, com Camilo Cienfuegos, Benítez e Calixto Morales, com fuzis semi-automáticos, cercariam a casa guano pela extrema direita. Fidel, Universino Sánchez, Luis Crespo, Calixto García, Fajardo e eu, atacaríamos pelo centro. Raúl com sua esquadra e Almeida com a sua, o quartel, pela esquerda.

Assim fomos aproximado-nos às posições inimigas até chegar a uns quarenta metros. Havia boa lua. Fidel começou o tiroteio com duas rajadas de metralhadora e foi seguido por todos os fuzis disponíveis. Imediatamente, se ordenou que os soldados se rendessem, mas sem resultado nenhum. No momento de iniciar-se o tiroteio foi executado o informante e o assassino Chicho Osório.

O ataque tinha-se iniciado às duas e quarenta da madrugada e os guardas fizeram mais resitência do previsível, havia um sargento que tinha um M-1, e respondia com uma descargacada vez que lhe ordenávamos a rendição; deram-se ordens de disparar nossas velhas granadas de tipo brasileiro; Luis CRespo lançou a sua, eu a que me pertencia. Porém, não explodiram. Raúl Castro lançou dinamite sem niple e esta não fez nenhum efeito. Havia então que aproximar-se e queimar as casas ainda com risco da prórpia vida; naquele momento Universo Sánchez tentou fazê-lo primeiro e falhou, depois Camilo Cienfuegos tampouco pôde fazê-lo, e no final, eu e Luis Crespo aproximamos-nos a um rancho que este companheiro incendiou. À luz do incêncio pudemos ver que era simplesmente um lugar onde guardavam os frutos do coqueiral próximo, mas intimidamos os soldados que abandonaram a luta. Um fugindo foi quase chocar contra o fuzil de Luis Crespo que o feriu no peito, o despojou da armae seguimos disparando contra o sargento que fugia e esgotou os poucos cartuchos de que dispunha.

Os soldados, quase sem defesa, eram sem clemência feridos por nossas balas. Camilo Cienfuegos entrou primeiro, por nosso lado, à casa de onde chegavam gritos de rendição. Fizemos rapidamente o balanço que tinha deixado o combate em armas: oito Springfield, uma metralhadora Thompson e uns mil tiros; tínhamos gastado uns quinhentos tiros aproximadamente. Além disso, tínhamos cintos de cartucho, combustível, facas roupas, alguma comida. A contagem de baixas: eles tinham dois mortos e cinco feridos, além disso três prisioneiros. Alguns junto com o informante Honório, tinham fugido. Por nossa parte, nem um arranhão. Pegamos fogo nas casas dos soldados e nos retiramos, logo de prestar atenção da melhor maneira possível aos feridos, três deles de muita gravidade que logo morreram, segundo nos informaram depois da vitória final, os deixamos aos cuidados dos soldados prisioneiros. Um destes soldados, se incorporou depois às tropas do comandante Raúl Castro e alcançou o grau de tenente, morrendo num acidente aéreo já depois de ganha a guerra.

Sempre contrastava nossa atitude com os feridos e a do exército que não só assassinava nossos feridos senão que abandonava os seus. Esta diferença foi fazendo seu efeito com o tempo e constituiu um dos fatores de triunfo. Ali, com muita dor para mim, que sentia como médico a necessidade de manterreservas para nossas tropas, ordenou fidel que se proporcionasse aos prisioneiros todas as medicinas disponíveis para o cuidado dos soldados feridos, e assim fizemos. Deixamos também em liberdade os civis e, às quatro e trinta da manhã do dia 17, saíamos ruma a Palma Mocha, onde chegamos ao amanhcer internando-nos rapidamente, procurando as zonas mais abruptas da Maestra.

Este foi o primeiro combate vitorioso dos exércitos rebeldes; neste e no combate seguinte, foi o único momento da vidade nossa tropa onde nóstivemos mais armas que homens... O camponêsnão estava preparado para se incorporar à luta e a comunicação com as bases da cidade não existia.

Próxima passagem da guerra revolucionária: Combate de "Arroyo Del Infierno"

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Passagens da Guerra Revolucionária - À Deriva

Mês Cmte. Fidel Castro






Cmte. Ernesto Che Guevara

No dia seguinte da surpresa de Alegria de Pío, caminhávamos entre montes. Estávamos praticamente sem água. À noite saímos a caminhar. Estabeleci qual era a Estrela Polar, de acordo com meus conhecimentos no assunto, e durante um par de dias fomos caminhando, guiando-nos por ela em direção ao leste e chegar à Sierra Maestra. Muito tempo depois me inteiraria que a estrela que nos permitiu guiar em direção ao leste não era a Polar e que simplesmente por casualidade, tínhamos ido levando aproximadamente esta direção até o amanhecer em umas falésias já muito perto da costa.

Nossa tortura maior era a sede; essa noite tinha aparecido uma multidão de caranguejos e impelidos pela fome matamos alguns , mas como não podiamos fazer fogo, sorvemos cruas suas partes galatinosas, o que nos provocou uma sede angustiante.

Depois de procurar muito achamos um passo transitável onde descer à procura da água mas, no transcurso de idas e vindas , perdemos a fossa pbservada desde o alto e só pudemos mitigar a sede graças às pequenas quantidades de água restante de chuvas anteriores que ficam nos espaços do "dente de cão", lá nós a procurávamos e a extraíamos por meio da bombinha de um nebulizador antiasmático; bebemos só algumas gotas de líquido cada um.

Achamos que eram soldados, mas já estávamos demasiado perto par voltar e avançamos rapidamente; Almeida foi comunicar a rendição aos adormecidos, quando nós nos encontramos com uma surpresa agradável: eram três expedicionários do Granma, Camilo Cienfuegos, Pancho Gonzáles e Pablo Hurtado. Seguimos nosso caminho juntos. Oito era agora o número de combatentesdo exército remanescente do Granma e não tínhamos notícias de que houvesse mais sobreviventes.

Apenas amanheceu começamos uma exploração. O dia nos surpreendeu antes de poder transpor a colina e só tínhamos a chegar a uma caverna desde a qual se observava perfeitamente todo o panorama: este era de absoluta tranquilidade; uma embarcação da marinha desembarcava homens, enquanto outros embarcavam, aparentemente, em uma operação de permuta. Pudemos contar cerca de trinta e depois soubemos que os homens de Laurent, o temido assassino da Marinha de Guerra que, depois de ter cumprido sua macabra missão de assassinar um grupo de companheiros, estava relevando seus homens. A situação era bastante complicada; no caso de sermos descobertos, não havia a menor possibilidade de salvação e só restava lutar até o fim.

Passamos o dia sem provar um bocado, racionando rigorosamente a água que distribuíamos no ocultar de um olho mágico telescópico par que fosse exata a medida para cada um de nós e à noite empreendemos novamente o caminho para afastarnos desta zona onde vivemos um dos dias mais angustiantes da guerra, entre a sede e a fome, o sentimento de nossa derrota e a iminência de um perigo palpável e inevitável que nos fazia sentir como ratos encurralados.

Depois de algumas peripécias fomos cair no arroio que desmbocava no mar, ou a algum afluente deste; deitados no chão bebemos avidamente, como cavalos, durante um tempo longo, até que nosso estômago vazio de alimentos, se recusou a receber mais água. Enchemos os cantis e seguimos nossa viagem. De madrugada chegamos ao cume de uma pequena colina na qual havia umas quantas árvores. Distribuímos aí como para fazer resistência e para poder nos escondermos o melhor possível e passamos o dia inteiro vendo passar teco-tecos a muita baixa altura sobre nossas cabeças, com alto-falantes que emitiam sons incompreensívies mas que Almeida e Benitez, veteranos do Moncada, entendiam que era uma intimação de rendição.

Seguimos nosso caminho mas com a gente cada vez mais relutante em caminhar; essa noite, ou talvez a seguinte, quase todos os companheiros se recusaram a continuar e tivemos que chamar então às portas de um camponês, no lugar chamado Puercas Gordas, nove dias depois da surpresa. Receberam-nos de forma amável e subsequentemente um festival de comida se realizou naquela choça camponesa.

Os camponeses disseram que tinham notícias de que Fidel estava vivo e que podiam levar-nos a lagumas zonas nas quais presumivelmente estaria com Crescencio Perez, mas tínhamos que deixar os uniforme e as armas. Almeida e eu conservamos umas pistola metralhadoras Star; os oito fuzis e todas as balas ficaram resguardadas na casa do camponês, enquanto nós nos dividíamos em dois grupos, de três e quatro homens, para hospedar-mos na casa dos camponeses e daí ir ganhando, em fases sucessivas, a Maestra.

Apenas partimos, o dono da casa não pode resistir a tentação de comunicar a notícia a um amigo para discutir onde escondia as armas; este o convenceu de que podiam ser vendidas, entrando em combinação com um terceiro, o que fez a acusação ao exército e, poucas horas depois de ter deixado a primeira hospitaleira mansão de Cuba, o inimigo entrou, levava prisioneiro Pablo Hurtado e capturava todas as armas.

Estávamos na casa de um adventista chamado Argélio Rosabal a quem todos conheciam como "O Pastor". Este companheiro, ao inteirar-se da infausta notícia estabeleceu contato rapidamente com outro camponês da zona, que a conhecia bem e que dizia simpatizava com os rebeldes. Essa noite nos tiravam dali e nos levavam a outro refúgio mais seguro. O camponês que conhecêramos aquele dia se chamava Guillermo García, hoje chefe do Exército de Ocidente e membro da Direção Nacional do nosso Partido.

Uma madrugada, depois de cruzar a rodovia de Pilón, e caminhar sem guia algum, chegamos até o sítio de Mongo Pérez onde estavam todos os expedicionários sobreviventes de nossas tropas desmbarcadas; a saber, Fidel Castro, Universo Sánchez, Faustino Pérez, Rául Castro, Ciro Redondo, Efigenio, Ameijeiras René Rodríguez e Armando Rodríguez. Poucos dias depois se incorporariam a nós Morán, Crespo, Julito Díaz, Calixto García, Calixto Morales e Bermúdez.

Nossa pequena tropa se apresentava sem uniforme e sem armamentos, pois as duas pistolas eram tudo o que tínhamos conseguido salvar do desastre e a reconvenção de Fidel foi muito violenta. Durante toda a campanha, e ainda hoje, nós lembramos de sua advertência: "vocês não pagaram a falta que cometeram, porque ao deixar os fuzis nestas circunstâncias se paga com a vida; a única esperança de sobrevivência que tinham no caso de que o exército esbarrasse com vocês eram suas armas. Deixá-las foi um crime e uma estupidez".

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Bom dia Comandante em Chefe FIDEL CASTRO



Bolívar lanzó una estrella que junto a Martí brilló,
Fidel la dignificó para andar por estas tierras.
(
Canción Por La Unidad Latinoamericana - Pablo Milanés)


Ao homenagear o Comandante, no dia de seu aniversário, afirmo com toda a clareza que este ser humano que se construiu na educação revolucionária, naquela que já se encontra situada histórica e socialmente, nos referencia com seu legado de desprendimento, de sacrifício pessoal como exemplo de integridade ética e moral.

A argúcia do indivíduo que encarnou o sonho da libertação, um militante da história. Fidel Castro é um personagem do tempo, de um espaço vigente, um homem como qualquer outro, que não se difere dos demais, mas na essência um homem que suporta o sacrifício da calúnia, do rótulo depreciativo e das tentativas de assassinato, um homem que não teme o perigo-nem por negligência, nem por aventura vã, mas porque sabe: quem não se expõe ao perigo não pode enfrentar os algozes do povo, "..porque numa revolução ou se triunfa ou se morre." Mas a mente ansiosa, raivosa de seu pretenso carrasco, ignora que as idéias não se matam, que um progressista se forja um revolucionário nos acontecimentos históricos descortinadores e é julgado por ela e não por relações e interesses individuais mesquinhos e monetários.

Personagens autenticamente reconhecidos pelo povo, não são personagens construídos pelo poder dos exploradores, alheios, mas com o povo e como parte dele constrói um novo poder, um poder que fala com alteridade, que ouve e pratica com coerência os anseios como condição desse povo, que extraordinariamente se levanta, no momento, a que nada é comparável à sua consciência coletiva e contraria a tirania, seja qual for, resgata o sujeito coletivo da história com pleno ajuste de suas lideranças, forjadas na unidade questionadora do processo de rebeldia social.

Comandante, temos orgulho de sua trajetória, dessa vida que compartilhada com as pessoas, nunca enclausurada no egoísmo, e nos brinda com alegria, todos os dias, em suas reflexões. Pois tens bem viva a chama revolucionária, do revolucionário presente no seu tempo. Esse tempo que é toda a vida de lucidez, compromisso, lealdade e amor incondicional pela humanidade. A cada batalha, a cada arma, as idéias plantam um rebeldia contra a injustiça no mundo e não morrem.

Te abraço com todo o fervor revolucionário
Runildo Pinto

Desde Sierrra Maestra - 13 de agosto de 2008 - Cuba Socialista

Tua vida é feita da verdadeira Felicidade Comandante Fidel Castro!

"Juramos Vencer! Pátria ou Morte! Até a vitória!"


segunda-feira, 11 de agosto de 2008

"Passagens da Guerra Revolucionária", por Comte. Che Guevara - Alegria de Pío

Mês Cmte Fidel Castro






Alegria de Pío é um lugar da Província de Oriente, onde nós fomos surpreendidos no dia 5 de dezembro de 1956 pelas tropas da ditadura.

Já não restava de nossas equipes de guerra nada mais que o fuzil, a canana e algumas balas molhadas. Nosso arsenal médico tinha desaparecido, nossas mochilas tinham ficado nos pântanos, em sua grande maioria. Devido a nossa inexperiência , saciávamos nossa fome e nossa sede comendo canas na beira do caminho e deixando aí o bagaço; mas além disso, não precisaram os guardas da ajuda de pesquisas indiretas, pois nosso guia, segundo nós descobrimos anos depois, foi o autor principal da traição, os levando até nós. Tínhamos deixado o guia em liberdade à noite anterior, cometendo um erro que repetiríamos às vezes durante a luta, até aprender que os elementos da população civil cujos antecedentes se ignoram devem ser vigiados sempre que se esteja em zonas de perigo. Nunca deveríamos ter permitido que o nosso falso guia fosse embora.

O companheiro Montané e eu estávamos encostados num tronco, falando de nossos respectivos filhos; comíamos a ração magra -meia linguiça e dois biscoitos- quando soou um disparo; somente uma diferença de segundos e um furacão de balas -ou pelo menos isso pareceu a nosso angustiado espírito durante aquele teste de fogo- se alçava sobre o grupo de 82 homens. Meu fuzil não era dos melhores, deliberadamente tinha pedido assim porque minhas condições físicas eram deploráveis depois de um prolongado ataque de asma suportado durante toda a travessia marítima e não queria que se perdesse uma arma boa em minhas mãos.

Lembro-me que, no meio do tiroteio, Almeida -nessa época o capitão- veio ao meu lado para perguntar as ordens que havia mas já não havia ninguém lá para dá-las. Segundo descobri depois, Fidel tentou em vão agrupar as pessoas no no canavial próximo, ao que havia que chegar, cruzando o caminho que divide o canavial somente. A surpresa tinha sido muito grande, o tiroteio demasiado intenso. Almeida voltou aencarregar-se do seu grupo.

Tinha em frente uma mochila de medicamentos e uma caixa de balas, ambas constituam muito peso para transportá-las juntas; tinha diante de mim o dilema de minha dedicação à medicina ou meu dever de soldado revolucionário, levei a caixa de balas, deixando a mochila para cruzar o espaço que me separava das canas. Lembro-me perfeitamente de Faustino Pérez, de joelhos no caminho que divideo canavial, disparando sua pistola metralhadora. Perto de mim um companheiro chamado Arbentosa, caminhava na direção do canavial. Uma rajada que não se distinguiu das outra, nos alcançou aos dois. Sentium forte golpe no peito e uma ferida no pescoço; dei-me por morto. Arbentosa, vomitando sangue pelo nariz, pela boca e pela enorme ferida da bla querenta e cinco, gritou algo assim como "me mataram" e começou a disparar loucamente pois não se via ninguém naquele momento. Disse a Faustino, dede o chão, "me prejudicaram" (mas mais forte a palvra), Faustino deu-me uma olhada no meio da sua tarefa e me disse que não era nada, mas em seua olhos se lia a condenação que significava a minha ferida.

Fiquei caído, disparei um tiro na direção do monte seguindo o mesmo escuro impulso do ferido. Imediatamente, pus-me a pensar no melhor modo de morrer nese minuto em que parecia tudo perdido. Alguém, de joelhos, gritava que tínhamos que nos render e se ouviu atrás uma voz, que depois soube pertencia a Camilo Cienfuegos, gritando: " Aqui ninguém se rende..." e um palavrão depois. Ponce seaproximou agitado, com a respiração ansiosa, mostrando um balaço que aparentemente lhe atravessava o pulmão. Me disse que estava ferido e lhe manifestei, com toda indiferença, que eu também. Ponce continuou rastejando em direção ao canavial, assim, como outros companheiros ilesos. Por um momento fiquei só, recostado ali esperando a morte. Almeida chegou perto de mim e me deu ânimo para continuar; apesar das dores, o fiz e entramos no canavial. Lá eu vi o grande companheiro Raúl Suárez, com seu dedo polegar destroçado por uma bala e Faustino Pérez vendando-o junto a um tronco; depois tudo se confundia no meio das avionetas que passavam baixo, lançando alguns disparos de metralhadoras, semeando mais confusão entre cenas as vezes grotescas, como a de um robusto combatente que queria se esconder atrás de umas canas, e outro que pedia silêncio entre o tremendo labirinto de tiros, sem se saber bem por que razão.

Formou-se um grupo conduzido por Almeida e no que estávamos também o hoje Comandante Ramiro Valdés, naquele tempo tenente, e os companheiros Chao e Benítez; com a Almeida à cabeça, cruzamos o último caminho do canavial para alcançar um monte salvador. Nesse momento se ouviam os primeiros gritos: "fogo", no canavial se levantavam colunas de fumaça e fogo; embora isto não posso assegurar, porque pensava mais na amargura da derrota e na iminência de minha morte.

Caminhamos até que a noite nos impediu avançar e resolvemos dormir todos juntos, amontoados, atacados pelos mosquitos, torturados pelasede e a fome . Assim foi nosso batismo e fogo, no dia 5 de dezembro de 1956, nas proximidades de Niquero. Assim começou a forja do que seria o Exército Rebelde.

Próxima passagem: À Deriva

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O NASCIMENTO DE UM EXÉRCITO - 6. O destacamento de propaganda do Exército de Libertaçom do Vietname


Para decidir a hora da insurreiçom, o Comité interprovincial projectava organizar umha última conferência. Foi nessa altura que nos chegou a notícia da volta iminente do Tio Ho, que conseguiu sair das prisons do Kuomintang.

Ao chegar a Pac-Bo, ele escutou o relatório sobre a situaçom e a resoluçom sobre o desencadeamento da guerrilha e, a seguir, reuniu os quadros responsáveis para analisar a situaçom. Sublinhou que a resoluçom adoptada incidia unicamente sobre a situaçom do Cao-Bac-Lange, nom sobre o país no seu conjunto; por outras palavras, ocupávamo-nos com umha parte, abstraindo do todo. Em tais condiçons, fazer eclodir a guerrilha em larga escala nas perspectivas da resoluçom do Comité interprovincial, era ir, fatalmente, ao encontro das grandes dificuldades. No país interior, mais nenguma regiom reunia as condiçons requeridas para nos apoiar: o inimigo poderia reagrupar todos os efectivos contra nós. Do ponto de vista militar, a resoluçom nom correspondia ao princípio da concentraçom das forças: os quadros e o armamento estavam dispersos, faltava umha força de base.

O Tio Ho considerou que mesmo que a etapa do desenvolvimento pacífico tivesse sido ultrapassada, nom tínhamos por esse facto chegado à fase da insurreiçom geral. Limitarmo-nos a actividades puramente políticas já nom bastaria para fazer progredir o movimento; mas desencadear imediatamente a insurreiçom seria colocarmo-nos numha situaçom embaraçosa. Era necessário, portanto, passar do campo político para a luita armada, deixando, no imediato, a acçom política ter ainda a precedência sobre a luita armada.

Era necessário encontrar umha fórmula apropriada para dar novo estímulo ao movimento e foi no decurso dessa reuniom que o Presidente preconizou a criaçom do "Destacamento de propaganda do Exército e Libertaçom" que nom devia passar, de momento, de umha formaçom. Ele tinha por missom mobilizar e chamar o povo ao combate. Mas, para começar, devia ligar maior importáncia ao trabalho político que à luita armada, tendo a missom de propaganda a primazia sobre o combate propriamente dito.

Esta análise da situaçom convenceu-nos a todos, e o novo programa foi aprovado por unanimidade. Foi assim que nasceu o Destacamento de Propaganda do Exército de Libertaçom do Vietname.

Segundo o método de trabalho que lhe era caro, o Tio Ho orien-tou-nos na elaboraçom das medidas a aplicar: organizaçom do Destacamento para composiçom, recrutamento, abastecimento em armas e víveres, futuras relaçons com as autoridades e as populaçons locais.

Passámos, em seguida, um dia inteiro a elaborar o projecto do plano. Pola noite adiante, continuaríamos a debater os nossos pontos de vista. Já sobre a tarde, o Tio Ho ainda pesava os prós e os contras. Na manhá do dia seguinte, o projecto era submetido à colectividade.

Para desencadear a luita armada, segundo a nova orientaçom, o Tio Ho insistiu particularmente em dous pontos:

- Actuar rápida e resolutamente: um mês após a formaçom do destacamento, este devia ter no seu activo alguns sucessos militares; o primeiro combate devia ser obrigatoriamente umha vitória.

- Em campanha, assegurar boas relaçons entre o destacamento regular e os destacamentos locais, entre o exército e a populaçom. Manter em permanência a ligaçom com o organismo dirigente.

Além disto, o Presidente ligava extrema importáncia aos princípios da clandestinidade. íamos encetar o caminho que ele nos recomendava ainda:

"Nom sejam subjectivos, nom revelem as vossas forças, actuem em segredo, um absoluto segredo. Que o inimigo ignore todo sobre vós. Que ele vos julgue fraco quando sodes fortes. Que de nada suspeite mesmo na véspera de lançarem o ataque."

Foi com o coraçom transbordante de confiança que voltamos ao Comité interprovincial. As ordens fôrom aplicadas com celeridade. Os quadros e o armamento fôrom reunidos imediatamente. O destacamento compreendia, à data da formaçom, trinta e quatro combatentes escolhidos entre os chefes de secçons, chefes de grupos e soldados de elite e que se tivessem distinguido pola sua coragem nos destacamentos armados regionais ou nos grupos de milicianos de choque. A unidade tinha sido também reforçada por alguns quadros que acabavam de terminar os seus estudos militares na China. A partir de entom passavam a existir no Cao-Bac-Lang três tipos de formaçom armados: o destacamento de propaganda constituía o elemento de choque, em volta do qual se agrupavam os destacamentos armados regionais e, depois, os destacamentos de autodefesa paramilitares. Ainda que à escala de guerrilha, estas formaçons actuassem, todavia, em estreita coordenaçom. Recordo-me nitidamente desta característica: foi para mim umha cousa completamente nova que me impressionou muito.

Na véspera da formaçom do Destacamento, recebi as directivas do Tio Ho, transcritas num pedacinho de papel, escondido num maço de cigarros. dous dias depois, o Destacamento de Propaganda começava a aplicá-las, alcançando as suas duas primeiras vitórias em Phay Khat e Na Ngan. O Viet Lap publicou imediatamente o respectivo comunicado. Ao mesmo tempo, o Comité interprovincial lançava um apelo à populaçom, convidando-a a intensificar o seu auxílio ao exército. A influência do Departamento aumentava. Os elementos indecisos começárom a juntar-se-nos. Os traidores começárom a tremer e o inimigo moderou o seu ardor na caça aos militantes. Numerosas organizaçons de base foram postas em actividade e vinhérom aumentar rapidamente os seus efectivos. O movimento subia. A populaçom trazia ao exército cabazes repletos de formas de cereal e bolas de arroz. Em certos sítios, chegavam a oferecer-nos búfalos, bois e porcos. Assistiu-se ao aparecimento de poemas T. T..., do arroz T. T das caixas T. T.... para a compra de armas... (T. T. som as iniciais das palavras vietnamitas "Tuyên Truyên" -propaganda-, com as quais se designava o Departamento).

Um poderoso movimento de partida para a libertaçom ia-se apoderando da juventude, que aumentava rapidamente as nossas fileiras.

De Phay Khat, Ma Ngan, o Destacamento de Propaganda do Exército de Libertaçom do Vietname marchou directamente sobre a zona Thien Thuat, a fim de se constituir em companhia. Os nossos recrutas, chegados das pequenas unidades regionais, chegárom muito depressa ao centro da convocaçom. Em diversos sítios, os destacamentos locais já tinham os efectivos de umha secçom. Umha parte das armas tomadas ao inimigo foi-lhes distribuída, o que muito agradou à tropa. (Nessa época, dous ou três mosquetes bastavam para despertar o entusiasmo dos combatentes). Todos se preparavam febrilmente, em todos os sectores, para novos combates e reclamava-se o envio de tropas regulares.

Depois de nos termos constituído em companhias, deixamos umha parte dos nossos efectivos em Kim Ma, Tinh Tuc e Phia Mac para a propaganda armada, enquanto o grosso das tropas, para desorientar o inimigo, subia em direcçom da regiom de Dong Mu-Bao-Loc, na fronteira sino-vietnamita. Assim que chegamos ao sector, dirigíamo-nos, em absoluto segredo, à regiom limítrofe das províncias de Cao Bang e Bac Can. Nós pensávamos dirigirmo-nos para o Sul, tam depressa o movimento consolidasse. Polo caminho, a populaçom reservava-nos um acolhimento extremamente caloroso. Em certos sítios, ainda que à escassa distáncia de dous ou três quilómetros do posto, acendiam tochas para vir ao nosso encontro. Estávamos quase na época de Têt. Em certas localidades, a juventude preparara um autêntico festim, colocara mesas e cadeiras nas bermas da estrada e tinha esperado umha noite inteira para nos festejar. No cantom de Houng Hoa Tham, por exemplo, éramos aguardados na floresta por um autêntico acampamento de palhotas, bastante vasto para alojar toda a companhia, com um campo de treino e umha importante reserva de árvores.

Apesar da sua extrema penúria, a populaçom ajudava sem limites o exército da revoluçom. Durante os três dias de Têt, jovens e velhos abandonavam os seus lares para passar a festa connosco. Quando hoje penso nisso, ainda pergunto a mim próprio qual a forma de pagar a dívida que, na altura, contraímos com o povo.

Foi nessa época que os grupos de assalto restabelecêrom as nossas linhas de ligaçom com Thai Neguyon, cortadas pola repressom. Prosseguimos preparativos intensos para marchar para o Sul. Os camaradas Tong e Vu Anh juntárom-se a nós na floresta Tran Hung Dao, para fazer umha visita à tropa e elaborar um plano de marcha para o Sul. Mal nos deixaram, rebentou o golpe de força de 9 de Março. A situaçom evoluía favoravelmente. O Destacamento de propaganda do Exército de Libertaçom do Vietname abandonou as matas para umha marcha, em pleno dia, no vale de Kim Ula. Em cada aldeia, a populaçom, em delírio, tinha arvorado bandeiras vermelhas com a estrela dourada. Sempre me recordarei do espectáculo que entom se ofereceu aos nossos olhos. Todas estas bandeiras vermelhas que tornavam o céu mais vasto e mais azul. Os homens e a natureza como que desabrochados, transfigurados. As primeiras lufadas de independência que nos embriagavam.

Seguidamente, o grosso da companhia dirigiu-se para o Sul, estabelecendo à sua passagem o poder revolucionário, desarmando as guarniçons inimigas e levantando novas unidades.

No Cao-Bac-Lang, a direcçom do Partido fornecera a tempo as directivas para a formaçom do poder popular no campo, o desencadear da guerrilha, e o alistamento de novos recrutas. No dia imediato ao do golpe de força japonês, foram constituídas umhas vinte novas companhias do Exército de Libertaçom. Abríamos, por toda a parte, agências de recrutamento. Perto de Nuoc Hai, alistárom-se voluntariamente mais de três mil jovens. Em toda a regiom do Cao-Bac-Lang os campos formavam umha vasta zona livre.

Nesse preciso momento, no centro Bac Son-Vu-Nhai, as tropas da Salvaçom Nacional revoltárom-se também, inauguravam a guerrilha, instauravam o poder popular e aumentavam os efectivos. Algum tempo depois, as tropas da Salvaçom Nacional e o Exército da Libertaçom operavam a respectiva junçom. A Conferência Militar de Tonquim, realizada na Hieh Hoa, decidia a unificaçom de todas as forças armadas revolucionárias, sob a designaçom de "Exército de Libertaçom do Vietname". A zona libertada foi formada depois, englobando as províncias de Cao Bang, Bac Can, Long Son, Ha Giang, Thai Nguyen, Tuyen Quang e umha parte das províncias de Bac Giang e Vinh Yen.

A situaçom evoluía rapidamente. O movimento contra os japoneses, pola Salvaçom Nacional, subia como umha maré alta. O Congresso nacional do Partido e o Congresso dos Delegados da naçom cedo se passárom a reunir em Tan Trao. Entrementes, ocorreu a capitulaçom do Japom. Rebentou a revoluçom de Agosto. A República Democrática do Vietname nasceu, enfim!

Relato recolhido por Tran Cu.



terça-feira, 5 de agosto de 2008

Mês Fidel Castro - Fidel Alejandro Castro Ruz nasceu no dia 13 de agosto de 1926

LUIZ ALBERTO MONIZ BANDEIRA

Cientista político, professor emérito da Universidade de Brasília e autor de mais de 20 obras, entre as quais De Marti a Fidel: a Revolução Cubana e a América Latina


Fidel Castro, a revolução cubana e a América Latina

por Luiz Alberto Moniz Bandeira*

De Marti a Fidel: a Revolução Cubana e a América LatinaQuando o ditador Fulgêncio Batista, sem mais condições de manter-se no poder, renunciou durante o reveillon de 1959 e, secretamente, fugiu de Cuba para a República Dominicana, não foi só o seu governo que caiu. Todo o Estado cubano se havia desintegrado e 1959 tornou-se um ano realmente novo. Dias depois, centenas de guerrilheiros barbudos, grande parte de guajiros (trabalhadores do campo), sujos, uniformes rasgados, entraram em Havana, sob o comando de Fidel Castro, Ernesto Che Guevara e Camilo Cienfuegos. Era o clímax de uma epopéia, iniciada por apenas 16 sobreviventes, dos 82 que desembarcaram do iate Granma, no litoral Cuba, em 2 de dezembro de 1956. Fidel Castro tinha então 25 anos e, durante dois anos, comandou a guerra de guerrilhas, juntamente com seu irmão Raúl Castro, Che Guevara e Camilo Cienfuegos, organizando o Exército Rebelde, que destruiu a ditadura dos sargentos Fulgêncio Batista, respaldada pelos Estados Unidos.

A revolução cubana foi o fato político mais poderoso e o que maior impacto causou na América Latina, ao longo do século XX, não por causa do seu caráter heróico e romântico ou porque o regime implantado por Fidel Castro evoluiu posteriormente para o comunismo, mas porque ela exprimiu dramaticamente as contradições não resolvidas entre os Estados Unidos e os demais países da região. Não foram os comunistas que promoveram a revolução cubana, no contexto da na Guerra Fria. Conquanto alguns de seus líderes, como Ernesto Che Guevara e o próprio Fidel Castro, em pequena medida, acolhessem idéias marxistas, eles não pertenciam a nenhum partido comunista e não era inevitável que a revolução cubana se desenvolvesse a tal ponto de identificar-se com a doutrina comunista e instituísse a sua forma de governo. Com razão, o historiador Thomas Skidmore, da Brown University, apontou Cuba como “um estudo clássico do fenômeno nacionalista”, acrescentando que o povo podia ver o caráter autoritário do regime, mas “o real apelo do regime de Castro era o nacionalismo”. Com efeito, a revolução cubana foi autóctone, teve um caráter nacional e democrático, e a implantação de um regime segundo o modelo dos países do Leste Europeu resultou de uma contingência histórica, não de uma política empreendida pela União Soviética, ma, sim, empreendida pelos Estados Unidos que, sem respeitar os princípios da soberania nacional e autodeterminação dos povos, não aceitaram os atos da revolução, como a reforma agrária, e transformaram contradições de interesses nacionais em um problema do conflito Leste-Oeste.

De Martí a Fidel: a Revolução Cubana e a América Latina (editora Civilização Brasileira)Em abril de 1959, quatro meses após a tomada do poder em Havana, Fidel Castro esteve em Buenos Aires, a fim de participar conferência do Comitê dos 21, organismo encarregado de estruturar a Operação Pan-Americana, e seu discurso, segundo o então presidente Juscelino Kubitschek, refletiu “melhor do que os demais a tragédia da América Latina”, dada a crueza que ressaltava de suas palavras. Causou “verdadeiro impacto” ao reclamar dos Estados Unidos uma ajuda financeira à América Latina, no valor de US$ 30 milhões. Kubitschek, após conversar com Fidel Castro em Brasília e ter “a oportunidade de conhecer, em profundidade, seu pensamento”, concluiu que ele era “um idealista amargurado, que sofrera na carne as conseqüências do apoio dado pelos Estados Unidos às ditaduras na América Latina”, uma vez que Cuba fora marcada por “longa tradição de tirania” e seu povo, havendo suportado “o garrote do regime de Batista, não conseguia separar a trágica realidade da situação interna do apoio irrestrito de Washington ao opressor do país”.

Ao regressar de Buenos Aires, Fidel Castro passou pelo Rio de Janeiro e fez um discurso na Praça Barão Rio Branco, organizado pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e no qual repetiu basicamente o que dissera em Buenos Aires: “Ni pan sin liberdad ni libertad sin pan”. Lembro-me bem destas suas palavras, pois estava ao seu lado no palanque. E, em Havana, Fidel Castro voltou a reiterar que “la ideología de nuestra revolución es bien clara; no solo ofrecemos a los hombres libertades sino que le ofrecemos pan. No solo le ofrecemos a los hombres pan, sino que le ofrecemos también libertades”. Ao longo do discurso, durante o qual tratou de definir a ideologia da revolução, Castro, após salientar que no mundo se discutiam duas concepções, a que oferecia aos povos democracia e matava-os de fome e a que oferecia pão, mas lhes suprimia as liberdades, afirmou:

“Nosotros nos vamos poner a la derecha, no nos vamos poner a la izquierda, ni nos vamos poner en el centro, que nuestra Revolución no es centrista. Nosotros no vamos poner un poco más adelante que la derecha y que la izquierda. Ni a la derecha ni a la izquierda, un paso más allá de la derecha y de la izquierda”.

Em abril de 1960, quando estive em Havana, acompanhando Jânio Quadros, então candidato à presidência do Brasil, vi Fidel Castro mostrar-lhe um crucifixo que trazia pendurado no pescoço, indicando que não era comunista e que respeitava a Igreja. Mas, um ano depois, em 16 de abril de 1961, após o bombardeio dos aeroportos de San Antonio de los Baños, Santiago e Havana pelos aviões da CIA, Fidel Castro, após compará-lo, com justo motivo, ao ataque pérfido e traiçoeiro do Japão a Pearl Harbor, em 1941, declarou que os Estados Unidos não perdoavam Cuba porque “esta es la revolución socialista y democrática de los humildes, con los humildes y para los humildes”.

Ao fazer essa declaração, Fidel Castro buscou comprometer a União Soviética na defesa de Cuba. Ele jogou com o conflito político e ideológico que então eclodira entre Moscou e Pequim e dividira o Bloco Socialista, pois temia que Nikita Kruchev, na linha coexistência pacífica e em entendimento com John Kennedy, trocasse Cuba por Berlim Ocidental, em prol de melhores relações com os Estados Unidos. A proclamação do caráter socialista da revolução cubana, porém, representou igualmente duro golpe nos dogmas cristalizados por Joseph Stalin e outros líderes comunistas, sob o rótulo de marxismo-leninismo, uma vez que ela fora realizada não por um partido supostamente operário, constituído sob as normas do chamado centralismo-democrático e rotulado de comunista, mas pelo Movimento 26 de Julho, uma organização composta, sobretudo, por elementos das classes médias, que, no curso da guerra de guerrilhas, passaram a incorporar camponeses e trabalhadores rurais, os guajiros, ao Exército Rebelde, em benefício dos quais realizaram a reforma agrária.

De conformidade com a ortodoxia stalinista, Cuba não tinha condições materiais senão para realizar uma revolução agrária e democrática, mediante a instalação de um “governo patriótico”, de união com a burguesia progressista, que se propusesse a impulsionar o processo de industrialização e, libertando o país do domínio imperialista, promover o desenvolvimento econômico e a emancipação nacional. Os dirigentes comunistas, que visitavam Havana, consideravam a revolução em Cuba estranha ao modelo, por eles reconhecido, dado lá não existir um operariado industrial, e julgavam Fidel Castro e seus companheiros um “grupo inexperiente, com formações ideológicas diversas e pouco definidas”, orientados pelo que qualificaram como “marxismo amador, ou melhor ainda, como cubanismo”. Ouvi quando Luiz Carlos Prestes, então secretário-geral do PCB, qualificou Fidel Castro como “aventureiro”, em entrevista à imprensa do Rio de Janeiro, em 1959.

A revolução cubana assim produziu profundas conseqüências na América Latina, onde a tendência das Forças Armadas para intervir, como instituição, no processo político, a partir de 1960, não decorreu apenas de fatores endógenos e constituiu muito mais um fenômeno de política internacional continental do que de política nacional, argentina, equatoriana, brasileira etc., uma vez que fora determinada, em larga medida, pela mutação que os Estados Unidos estavam a promover na estratégia de segurança do hemisfério, redefinindo as ameaças, com prioridade para o inimigo interno, e difundindo, através, particularmente, da Junta Interamericana de Defesa, as doutrinas de contra-insurreição e da ação cívica. Tanto isto é certo que a intervenção das Forças Armadas, a princípio, visou, sobretudo, a ditar decisões diplomáticas, a modificar diretrizes de política exterior, e ocorreu, geralmente, nos países cujos governos se recusavam a romper relações com Cuba. E daí o surto militarista, com a propagação dos golpes de Estado, que tinham como principal fonte de inspiração a Junta Interamericana de Defesa, visando a impedir que outro Fidel Castro surgisse na América Latina.

Fidel Castro foi o mais importante líder da América Latina, no século XX, e o fato de que permaneceu quase meio século no poder, apesar do bloqueio e de todas as pressões, inclusive dezenas tentativas de assassinato pela CIA, representou a maior derrota política que os Estados Unidos sofreram, apesar de seu enorme poderio econômico e militar.


* Luiz Alberto Moniz Bandeira é cientista político, professor emérito da Universidade de Brasília e autor de mais de 20 obras, entre as quais De Marti a Fidel: a Revolução Cubana e a América Latina.