BLOQUE ZONA LIVRE em Construção

BLOQUE ZONA LIVRE em Construção

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Passagens da Guerra Revolucionária - À Deriva

Mês Cmte. Fidel Castro






Cmte. Ernesto Che Guevara

No dia seguinte da surpresa de Alegria de Pío, caminhávamos entre montes. Estávamos praticamente sem água. À noite saímos a caminhar. Estabeleci qual era a Estrela Polar, de acordo com meus conhecimentos no assunto, e durante um par de dias fomos caminhando, guiando-nos por ela em direção ao leste e chegar à Sierra Maestra. Muito tempo depois me inteiraria que a estrela que nos permitiu guiar em direção ao leste não era a Polar e que simplesmente por casualidade, tínhamos ido levando aproximadamente esta direção até o amanhecer em umas falésias já muito perto da costa.

Nossa tortura maior era a sede; essa noite tinha aparecido uma multidão de caranguejos e impelidos pela fome matamos alguns , mas como não podiamos fazer fogo, sorvemos cruas suas partes galatinosas, o que nos provocou uma sede angustiante.

Depois de procurar muito achamos um passo transitável onde descer à procura da água mas, no transcurso de idas e vindas , perdemos a fossa pbservada desde o alto e só pudemos mitigar a sede graças às pequenas quantidades de água restante de chuvas anteriores que ficam nos espaços do "dente de cão", lá nós a procurávamos e a extraíamos por meio da bombinha de um nebulizador antiasmático; bebemos só algumas gotas de líquido cada um.

Achamos que eram soldados, mas já estávamos demasiado perto par voltar e avançamos rapidamente; Almeida foi comunicar a rendição aos adormecidos, quando nós nos encontramos com uma surpresa agradável: eram três expedicionários do Granma, Camilo Cienfuegos, Pancho Gonzáles e Pablo Hurtado. Seguimos nosso caminho juntos. Oito era agora o número de combatentesdo exército remanescente do Granma e não tínhamos notícias de que houvesse mais sobreviventes.

Apenas amanheceu começamos uma exploração. O dia nos surpreendeu antes de poder transpor a colina e só tínhamos a chegar a uma caverna desde a qual se observava perfeitamente todo o panorama: este era de absoluta tranquilidade; uma embarcação da marinha desembarcava homens, enquanto outros embarcavam, aparentemente, em uma operação de permuta. Pudemos contar cerca de trinta e depois soubemos que os homens de Laurent, o temido assassino da Marinha de Guerra que, depois de ter cumprido sua macabra missão de assassinar um grupo de companheiros, estava relevando seus homens. A situação era bastante complicada; no caso de sermos descobertos, não havia a menor possibilidade de salvação e só restava lutar até o fim.

Passamos o dia sem provar um bocado, racionando rigorosamente a água que distribuíamos no ocultar de um olho mágico telescópico par que fosse exata a medida para cada um de nós e à noite empreendemos novamente o caminho para afastarnos desta zona onde vivemos um dos dias mais angustiantes da guerra, entre a sede e a fome, o sentimento de nossa derrota e a iminência de um perigo palpável e inevitável que nos fazia sentir como ratos encurralados.

Depois de algumas peripécias fomos cair no arroio que desmbocava no mar, ou a algum afluente deste; deitados no chão bebemos avidamente, como cavalos, durante um tempo longo, até que nosso estômago vazio de alimentos, se recusou a receber mais água. Enchemos os cantis e seguimos nossa viagem. De madrugada chegamos ao cume de uma pequena colina na qual havia umas quantas árvores. Distribuímos aí como para fazer resistência e para poder nos escondermos o melhor possível e passamos o dia inteiro vendo passar teco-tecos a muita baixa altura sobre nossas cabeças, com alto-falantes que emitiam sons incompreensívies mas que Almeida e Benitez, veteranos do Moncada, entendiam que era uma intimação de rendição.

Seguimos nosso caminho mas com a gente cada vez mais relutante em caminhar; essa noite, ou talvez a seguinte, quase todos os companheiros se recusaram a continuar e tivemos que chamar então às portas de um camponês, no lugar chamado Puercas Gordas, nove dias depois da surpresa. Receberam-nos de forma amável e subsequentemente um festival de comida se realizou naquela choça camponesa.

Os camponeses disseram que tinham notícias de que Fidel estava vivo e que podiam levar-nos a lagumas zonas nas quais presumivelmente estaria com Crescencio Perez, mas tínhamos que deixar os uniforme e as armas. Almeida e eu conservamos umas pistola metralhadoras Star; os oito fuzis e todas as balas ficaram resguardadas na casa do camponês, enquanto nós nos dividíamos em dois grupos, de três e quatro homens, para hospedar-mos na casa dos camponeses e daí ir ganhando, em fases sucessivas, a Maestra.

Apenas partimos, o dono da casa não pode resistir a tentação de comunicar a notícia a um amigo para discutir onde escondia as armas; este o convenceu de que podiam ser vendidas, entrando em combinação com um terceiro, o que fez a acusação ao exército e, poucas horas depois de ter deixado a primeira hospitaleira mansão de Cuba, o inimigo entrou, levava prisioneiro Pablo Hurtado e capturava todas as armas.

Estávamos na casa de um adventista chamado Argélio Rosabal a quem todos conheciam como "O Pastor". Este companheiro, ao inteirar-se da infausta notícia estabeleceu contato rapidamente com outro camponês da zona, que a conhecia bem e que dizia simpatizava com os rebeldes. Essa noite nos tiravam dali e nos levavam a outro refúgio mais seguro. O camponês que conhecêramos aquele dia se chamava Guillermo García, hoje chefe do Exército de Ocidente e membro da Direção Nacional do nosso Partido.

Uma madrugada, depois de cruzar a rodovia de Pilón, e caminhar sem guia algum, chegamos até o sítio de Mongo Pérez onde estavam todos os expedicionários sobreviventes de nossas tropas desmbarcadas; a saber, Fidel Castro, Universo Sánchez, Faustino Pérez, Rául Castro, Ciro Redondo, Efigenio, Ameijeiras René Rodríguez e Armando Rodríguez. Poucos dias depois se incorporariam a nós Morán, Crespo, Julito Díaz, Calixto García, Calixto Morales e Bermúdez.

Nossa pequena tropa se apresentava sem uniforme e sem armamentos, pois as duas pistolas eram tudo o que tínhamos conseguido salvar do desastre e a reconvenção de Fidel foi muito violenta. Durante toda a campanha, e ainda hoje, nós lembramos de sua advertência: "vocês não pagaram a falta que cometeram, porque ao deixar os fuzis nestas circunstâncias se paga com a vida; a única esperança de sobrevivência que tinham no caso de que o exército esbarrasse com vocês eram suas armas. Deixá-las foi um crime e uma estupidez".