BLOQUE ZONA LIVRE em Construção

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quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O NASCIMENTO DE UM EXÉRCITO - 6. O destacamento de propaganda do Exército de Libertaçom do Vietname


Para decidir a hora da insurreiçom, o Comité interprovincial projectava organizar umha última conferência. Foi nessa altura que nos chegou a notícia da volta iminente do Tio Ho, que conseguiu sair das prisons do Kuomintang.

Ao chegar a Pac-Bo, ele escutou o relatório sobre a situaçom e a resoluçom sobre o desencadeamento da guerrilha e, a seguir, reuniu os quadros responsáveis para analisar a situaçom. Sublinhou que a resoluçom adoptada incidia unicamente sobre a situaçom do Cao-Bac-Lange, nom sobre o país no seu conjunto; por outras palavras, ocupávamo-nos com umha parte, abstraindo do todo. Em tais condiçons, fazer eclodir a guerrilha em larga escala nas perspectivas da resoluçom do Comité interprovincial, era ir, fatalmente, ao encontro das grandes dificuldades. No país interior, mais nenguma regiom reunia as condiçons requeridas para nos apoiar: o inimigo poderia reagrupar todos os efectivos contra nós. Do ponto de vista militar, a resoluçom nom correspondia ao princípio da concentraçom das forças: os quadros e o armamento estavam dispersos, faltava umha força de base.

O Tio Ho considerou que mesmo que a etapa do desenvolvimento pacífico tivesse sido ultrapassada, nom tínhamos por esse facto chegado à fase da insurreiçom geral. Limitarmo-nos a actividades puramente políticas já nom bastaria para fazer progredir o movimento; mas desencadear imediatamente a insurreiçom seria colocarmo-nos numha situaçom embaraçosa. Era necessário, portanto, passar do campo político para a luita armada, deixando, no imediato, a acçom política ter ainda a precedência sobre a luita armada.

Era necessário encontrar umha fórmula apropriada para dar novo estímulo ao movimento e foi no decurso dessa reuniom que o Presidente preconizou a criaçom do "Destacamento de propaganda do Exército e Libertaçom" que nom devia passar, de momento, de umha formaçom. Ele tinha por missom mobilizar e chamar o povo ao combate. Mas, para começar, devia ligar maior importáncia ao trabalho político que à luita armada, tendo a missom de propaganda a primazia sobre o combate propriamente dito.

Esta análise da situaçom convenceu-nos a todos, e o novo programa foi aprovado por unanimidade. Foi assim que nasceu o Destacamento de Propaganda do Exército de Libertaçom do Vietname.

Segundo o método de trabalho que lhe era caro, o Tio Ho orien-tou-nos na elaboraçom das medidas a aplicar: organizaçom do Destacamento para composiçom, recrutamento, abastecimento em armas e víveres, futuras relaçons com as autoridades e as populaçons locais.

Passámos, em seguida, um dia inteiro a elaborar o projecto do plano. Pola noite adiante, continuaríamos a debater os nossos pontos de vista. Já sobre a tarde, o Tio Ho ainda pesava os prós e os contras. Na manhá do dia seguinte, o projecto era submetido à colectividade.

Para desencadear a luita armada, segundo a nova orientaçom, o Tio Ho insistiu particularmente em dous pontos:

- Actuar rápida e resolutamente: um mês após a formaçom do destacamento, este devia ter no seu activo alguns sucessos militares; o primeiro combate devia ser obrigatoriamente umha vitória.

- Em campanha, assegurar boas relaçons entre o destacamento regular e os destacamentos locais, entre o exército e a populaçom. Manter em permanência a ligaçom com o organismo dirigente.

Além disto, o Presidente ligava extrema importáncia aos princípios da clandestinidade. íamos encetar o caminho que ele nos recomendava ainda:

"Nom sejam subjectivos, nom revelem as vossas forças, actuem em segredo, um absoluto segredo. Que o inimigo ignore todo sobre vós. Que ele vos julgue fraco quando sodes fortes. Que de nada suspeite mesmo na véspera de lançarem o ataque."

Foi com o coraçom transbordante de confiança que voltamos ao Comité interprovincial. As ordens fôrom aplicadas com celeridade. Os quadros e o armamento fôrom reunidos imediatamente. O destacamento compreendia, à data da formaçom, trinta e quatro combatentes escolhidos entre os chefes de secçons, chefes de grupos e soldados de elite e que se tivessem distinguido pola sua coragem nos destacamentos armados regionais ou nos grupos de milicianos de choque. A unidade tinha sido também reforçada por alguns quadros que acabavam de terminar os seus estudos militares na China. A partir de entom passavam a existir no Cao-Bac-Lang três tipos de formaçom armados: o destacamento de propaganda constituía o elemento de choque, em volta do qual se agrupavam os destacamentos armados regionais e, depois, os destacamentos de autodefesa paramilitares. Ainda que à escala de guerrilha, estas formaçons actuassem, todavia, em estreita coordenaçom. Recordo-me nitidamente desta característica: foi para mim umha cousa completamente nova que me impressionou muito.

Na véspera da formaçom do Destacamento, recebi as directivas do Tio Ho, transcritas num pedacinho de papel, escondido num maço de cigarros. dous dias depois, o Destacamento de Propaganda começava a aplicá-las, alcançando as suas duas primeiras vitórias em Phay Khat e Na Ngan. O Viet Lap publicou imediatamente o respectivo comunicado. Ao mesmo tempo, o Comité interprovincial lançava um apelo à populaçom, convidando-a a intensificar o seu auxílio ao exército. A influência do Departamento aumentava. Os elementos indecisos começárom a juntar-se-nos. Os traidores começárom a tremer e o inimigo moderou o seu ardor na caça aos militantes. Numerosas organizaçons de base foram postas em actividade e vinhérom aumentar rapidamente os seus efectivos. O movimento subia. A populaçom trazia ao exército cabazes repletos de formas de cereal e bolas de arroz. Em certos sítios, chegavam a oferecer-nos búfalos, bois e porcos. Assistiu-se ao aparecimento de poemas T. T..., do arroz T. T das caixas T. T.... para a compra de armas... (T. T. som as iniciais das palavras vietnamitas "Tuyên Truyên" -propaganda-, com as quais se designava o Departamento).

Um poderoso movimento de partida para a libertaçom ia-se apoderando da juventude, que aumentava rapidamente as nossas fileiras.

De Phay Khat, Ma Ngan, o Destacamento de Propaganda do Exército de Libertaçom do Vietname marchou directamente sobre a zona Thien Thuat, a fim de se constituir em companhia. Os nossos recrutas, chegados das pequenas unidades regionais, chegárom muito depressa ao centro da convocaçom. Em diversos sítios, os destacamentos locais já tinham os efectivos de umha secçom. Umha parte das armas tomadas ao inimigo foi-lhes distribuída, o que muito agradou à tropa. (Nessa época, dous ou três mosquetes bastavam para despertar o entusiasmo dos combatentes). Todos se preparavam febrilmente, em todos os sectores, para novos combates e reclamava-se o envio de tropas regulares.

Depois de nos termos constituído em companhias, deixamos umha parte dos nossos efectivos em Kim Ma, Tinh Tuc e Phia Mac para a propaganda armada, enquanto o grosso das tropas, para desorientar o inimigo, subia em direcçom da regiom de Dong Mu-Bao-Loc, na fronteira sino-vietnamita. Assim que chegamos ao sector, dirigíamo-nos, em absoluto segredo, à regiom limítrofe das províncias de Cao Bang e Bac Can. Nós pensávamos dirigirmo-nos para o Sul, tam depressa o movimento consolidasse. Polo caminho, a populaçom reservava-nos um acolhimento extremamente caloroso. Em certos sítios, ainda que à escassa distáncia de dous ou três quilómetros do posto, acendiam tochas para vir ao nosso encontro. Estávamos quase na época de Têt. Em certas localidades, a juventude preparara um autêntico festim, colocara mesas e cadeiras nas bermas da estrada e tinha esperado umha noite inteira para nos festejar. No cantom de Houng Hoa Tham, por exemplo, éramos aguardados na floresta por um autêntico acampamento de palhotas, bastante vasto para alojar toda a companhia, com um campo de treino e umha importante reserva de árvores.

Apesar da sua extrema penúria, a populaçom ajudava sem limites o exército da revoluçom. Durante os três dias de Têt, jovens e velhos abandonavam os seus lares para passar a festa connosco. Quando hoje penso nisso, ainda pergunto a mim próprio qual a forma de pagar a dívida que, na altura, contraímos com o povo.

Foi nessa época que os grupos de assalto restabelecêrom as nossas linhas de ligaçom com Thai Neguyon, cortadas pola repressom. Prosseguimos preparativos intensos para marchar para o Sul. Os camaradas Tong e Vu Anh juntárom-se a nós na floresta Tran Hung Dao, para fazer umha visita à tropa e elaborar um plano de marcha para o Sul. Mal nos deixaram, rebentou o golpe de força de 9 de Março. A situaçom evoluía favoravelmente. O Destacamento de propaganda do Exército de Libertaçom do Vietname abandonou as matas para umha marcha, em pleno dia, no vale de Kim Ula. Em cada aldeia, a populaçom, em delírio, tinha arvorado bandeiras vermelhas com a estrela dourada. Sempre me recordarei do espectáculo que entom se ofereceu aos nossos olhos. Todas estas bandeiras vermelhas que tornavam o céu mais vasto e mais azul. Os homens e a natureza como que desabrochados, transfigurados. As primeiras lufadas de independência que nos embriagavam.

Seguidamente, o grosso da companhia dirigiu-se para o Sul, estabelecendo à sua passagem o poder revolucionário, desarmando as guarniçons inimigas e levantando novas unidades.

No Cao-Bac-Lang, a direcçom do Partido fornecera a tempo as directivas para a formaçom do poder popular no campo, o desencadear da guerrilha, e o alistamento de novos recrutas. No dia imediato ao do golpe de força japonês, foram constituídas umhas vinte novas companhias do Exército de Libertaçom. Abríamos, por toda a parte, agências de recrutamento. Perto de Nuoc Hai, alistárom-se voluntariamente mais de três mil jovens. Em toda a regiom do Cao-Bac-Lang os campos formavam umha vasta zona livre.

Nesse preciso momento, no centro Bac Son-Vu-Nhai, as tropas da Salvaçom Nacional revoltárom-se também, inauguravam a guerrilha, instauravam o poder popular e aumentavam os efectivos. Algum tempo depois, as tropas da Salvaçom Nacional e o Exército da Libertaçom operavam a respectiva junçom. A Conferência Militar de Tonquim, realizada na Hieh Hoa, decidia a unificaçom de todas as forças armadas revolucionárias, sob a designaçom de "Exército de Libertaçom do Vietname". A zona libertada foi formada depois, englobando as províncias de Cao Bang, Bac Can, Long Son, Ha Giang, Thai Nguyen, Tuyen Quang e umha parte das províncias de Bac Giang e Vinh Yen.

A situaçom evoluía rapidamente. O movimento contra os japoneses, pola Salvaçom Nacional, subia como umha maré alta. O Congresso nacional do Partido e o Congresso dos Delegados da naçom cedo se passárom a reunir em Tan Trao. Entrementes, ocorreu a capitulaçom do Japom. Rebentou a revoluçom de Agosto. A República Democrática do Vietname nasceu, enfim!

Relato recolhido por Tran Cu.