BLOQUE ZONA LIVRE em Construção

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quinta-feira, 31 de julho de 2008

O Nascimento de um Exército: 5. No sentido da luta armada


Se os ataques lançados polo inimigo tinham reduzido as nossas bases, por outro lado tinham-lhes dada têmpera. Algum tempo depois, em várias regions, o movimento reavivou-se e começou a orientar-se para a luita armada. O Comité interprovincial do Cao-Bac-Lang deu, aos núcleos clandestinos, ordem para se "militarizarem", isto é, para se proverem de armas e muniçons, e intensificarem o treino militar; as actividades militares deviam emparceirar com as actividades políticas. Os núcleos clandestinos receberam, portanto, a ordem de "viver como guerrilheiros", isto é, em alerta permanente, as bagagens ao alcance da mao, prontos a partir ao primeiro sinal.

Os distritos formavam destacamentos armados de sete a doze combatentes, livres de qualquer trabalho de produçom e, onde as condiçons o permitiam, formavam umha secçom. Estas unidades regionais encarregavam-se da propaganda armada, executavam os reaccionários mais perigosos, teciam emboscadas às patrulhas para conservarem o controlo das montanhas e das florestas. Entretanto, para evitar represálias à populaçom, o seu campo de actividade mantinha-se afastado o mais possível das organizaçons de base e, por esse simples facto, achava-se muito limitada.

A nossa "estrada para o Sul" fora cortada em diversos pontos. Nós enviávamos grupo de assalto sobre grupo de assalto para os sectores ameaçados, a fim de apoiar a populaçom local e manter as nossas organizaçons de base, mas sem obter senom resultados parciais. No princípio de 1944, a ligaçom com o delta tornou-se umha necessidade imperiosa. Por ordem do Partido, reagrupamos vários destacamentos armados locais para formar a Secçom da "Marcha para o Sul". Foi decidido avançar no mais absoluto segredo, através da seiva, para restabelecer a ligaçom com as nossas organizaçons de base no sopé do monte Phia Booc.

No nosso caminho, várias aldeias tinham sido arrasadas. A vigiláncia, nos povoados controlados polos postos, era das mais severas. A partir de Kim Ma, a nossa secçom tomou a direcçom do Sul, marchando de noite, descansando durante o dia. O avanço era penoso. Chovia sem tréguas. As águas faziam transbordar os ribeiros, que inundavam os caminhos. Encharcados até aos ossos, detínhamo-nos por vezes nas grutas, onde acendíamos um pequeno lume para nos aquecermos e secar as roupas. Depois, a marcha retomava. Por volta das seta ou oito horas da manhá, procurávamos um local bem abrigado, onde repousávamos das nossas fadigas, estendidos sobre folhas de latánia. Algumhas vezes, para atingir umha das bases, tínhamos de caminhar durante duas ou três noites ininterruptamente, através de aldeias inteiramente controladas por reaccionários, onde a única pista a seguir passava nas proximidades dos postos de guarda. Avançávamos entom com precauçom, evitando o menor ruído, o chapinhar de um passo na lama, o choque de um pau numha pedra.

Após oito ou nove dias de marcha, ultrapassamos Cho Ra e atingimos o ponto de contacto. Junto do monte Phia Borc. Um certo número de militantes que acompanhavam a secçom armada tinham trazido umha pedra litográfica, papel e tinta, para fazer aparecer um jornal ali mesmo, depois da tomada de contacto com as organizaçons de base e depois de consolidado o movimento na regiom e estabelecido o P.C. Se bem que arrasados pola fadiga, ardíamos de entusiasmo; em lugar de repousar, começamos a abater árvores para construir as cabanas; por essa altura, encarreguei o camarada Thank Quang, cuja família se encontrava em Cho Ra, de ir contactar as organizaçons de maior confiança da regiom. Voltou à noite, com tristes notícias; nas aldeias em redor, todas as organizaçons tinham sido desmanteladas e incendiadas numerosas casas de militantes. A populaçom prevenira-o para que se acautelasse, desenroiava-se umha grande busca e os atiradores batiam a floresta. Estabelecemos quartos de sentinela à volta do acampamento provisório e, após umhas horas de sono, retomamos o caminho para Cao Bang. Como nom previra mos a eventualidade de um recuo, tivemos de nos contentar com sopa de arroz no caminho da volta. No fim da viagem, todos nós cairíamos doentes.

Esta grande campanha de repressom causou-nos muitas dificuldades, mas as provaçons temperam os militantes e as massas e inculcam-lhe um espírito de sacrifício muito desenvolvido. Ora essa era precisamente umha das condiçons essenciais da insurreiçom.

No mês de Junho de 1944, o terror branco desencadeado polos franceses atingiu o paroxismo. Todos os dias se ouvia o eco da fusilaria. O povo esperava com impaciência os primeiros tiros da revoluçom. Toda a regiom do Cap-Bac-Lang nom passava de um barril de pólvora prestes a explodir.

No mesmo momento, no plano internacional, o fascismo caminhava para a derrota. Na Europa, após Estalinegrado e a contra-ofensiva geral do Exército soviético, os Aliados tinham aberto a segunda Frente. No Pacífico, a iniciativa das operaçons tinha escapado das maos dos japoneses, cujas bases navais mais importantes no ultramar caíam umhas após outras.

No princípio de Julho de 1944 deu-se a queda do Governo de Pétaín. De Gaulle reentrava em França na esteira das tropas anglo-americanas e formava o novo Governo. Na Indochina, esta evoluçom da situaçom acabou de cavar as contradiçons entre fascistas japoneses e colonialistas franceses. Impunha-se a perspectiva de um golpe de força nipónico.

O movimento revolucionário ganhava terreno por todo o país. A organizaçom da Liga Viet-Minh alarga-se de dia para dia. A opiniom pressentia e desejava umha grande convulsom.

Cerca do fim de Julho de 1944, o Comité interprovincial de Cao-Bac-Lang convocou umha conferência de quadros a fim de discutir o problema da insurreiçom armada. Todos os responsáveis do Sector estavam presentes. Ao passar em revista os nossos efectivos, podíamos constatar que os esforços dos imperialistas nom tinham sido muito eficazes: todos os nossos dirigentes tinham podido escapar ao terror branco.

A conferência desenrolou-se numha vasta gruta, em plena selva. A sala de reunions tinha sido arranjada com cuidado: arco de triunfo, grande mastro para a bandeira, filas de mesas para as delegaçons, camarata e refeitório. Em redor, à passagem de cada garganta do caminho, tinha-se disposto umha tríplice rede de sentinelas; ao lado dos militantes Man locais, alguns destacamentos armados tinham vindo dos distritos para reforçar o dispositivo de segurança. Após meses de umha luita encarniçada, meses passados a roçar pola morte, encon-trávamo-nos, enfim, reunidos para debater o problema que mais profundamente nos tocava. Pode calcular-se a nossa alegria. Nela se misturava um pouco de orgulho, orgulho polo nosso povo e polo nosso Partido; era de toda a evidência que a repressom nunca poderia bater a revoluçom.

O relatório político apresentado à conferência achava que "a conjuntura nacional e internacional e a situaçom do movimento no Cao-Bac-Lang tinham criado as condiçons para o desencadeamento da guerrilha nas três províncias".

As discussons que se seguírom chegárom rapidamente à resoluçom de fazer eclodir a insurreiçom o mais cedo possível, para corresponder à tensom criada polo "terror branco". Todos os delegados aclamárom esta decisom.

No dia seguinte, a conferência discutiu o sentido da palavra "insurreiçom" e decidiu substituí-lo por "desencadeamento da guerrilha", a fim de evitar equívocos na interpretaçom. Foi fixado um prazo para ultimar todos os preparativos.

Segundo o plano do Comité interprovincial, todas as regions deviam pôr de pé umha nova promoçom de chefes de destacamentos e de comissários políticos para atingir o montante previsto. Por outro lado, importava formar um certo número de quadros de reserva: todos os militantes clandestinos dos dous sexos, se a saúde lho permitia, deviam fazer um estágio para esse efeito. Incumbia ao Comité interprovincial organizar cursos de formaçom de chefes de secçons e de comandantes de companhia.

Abrimos, de urgência, nas regions sob o nosso controlo, cursos políticos em intençom dos militantes locais. Estes militantes eram escolhidos entre os elementos mais seguros e estimados da populaçom. Preparámo-los tanto para a guerrilha contra os japoneses como para a administraçom, a fim de que, no momento preciso, eles instaurassem o poder popular provisório.

As diversas localidades deviam aplicar o plano do Comité interprovincial para o recrutamento dos militantes de choque nas unidades de guerrilheiros. Estes homens repartiam-se em dous grupos: o primeiro, recrutado imediatamente ao momento da eclosom da guerrilha, enquanto que o outro constituiria o corpo da reserva. Divididos em grupos e secçons, recebiam um treino acelerado e deviam conservar-se prestes a entrar em campanha de um momento para o outro.

Era preciso, urgentemente, comprar e fabricar mais armamento, granadas em primeiro lugar. Cada espingarda de repetiçom devia conter cinqüenta cargas. As reservas de víveres, das quais umha parte composta de alimentos secos, deviam permitir resistir durante seis meses, para passar o período intercalar entre a apanha de arroz do ano em curso e a de milho do ano seguinte.

Os Comités de distrito deviam reorganizar a rede clandestina de ligaçom, os serviços de batedores, e ensinar à populaçom algumhas noçons sobre o trabalho de informaçons.

Desde há muito tempo que nós ensináramos a populaçom a criar o vácuo face ao inimigo e, em diversas localidades, tinham-se cavado silos para esconder os rebentos do arroz. Só nos faltava generalizar esta prática em todos os cantons, para bem acautelar as reservas de víveres. No que di respeito à evacuaçom da populaçom, insistíamos neste princípio: enquadrar e organizar sempre os evacuados de forma a que podam, ao mesmo tempo, prosseguir os trabalhos agrícolas e dar umha ajuda eficaz na frente.

A fim de estimular o movimento e preparar o desencadear da guerrilha, foi dada ordem aos destacamentos armados para repelir todos os ataques e garantirem-nos assim o controlo das florestas e das montanhas.

Todos os quadros e membros do Partido se lançárom desvairadamente nestes preparativos, desenvolvendo umha actividade intensa mas silenciosa, característica de toda a actividade clandestina. Viam-se velhas vender quase todo o que possuíam para comprar armas para os filhos. Em diversos distritos, velhos adoptárom resoluçons intimando os jovens dos dous sexos a alistarem-se no exército, ao primeiro apelo de mobilizaçom. O povo vivia na esperança e na ánsia febril das vésperas da insurreiçom.

Os nossos quadros organizavam reunions públicas para explicar à populaçom que o desencadear da guerrilha nom implicava forçosamente numha vitória fulminante, que era preciso contar com sacrifícios e, localmente, com alguns reveses de momento. Depois da eclosom da guerrilha, esperavam-nos muitos perigos e provocaçons. Todo este trabalho de explicaçom foi muito bem conduzido.

Setembro de 1944!

Terminava a colheita.

O plano dos preparativos tinha-se cumprido em grande parte. Já tínhamos aberto fogo em várias localidades. A atmosfera era de tensom. Todos aguardavam...