BLOQUE ZONA LIVRE em Construção

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

PASSAGENS DA GUERRA REVOLUCIONÁRIA: Luta Contra o Banditismo


, por Cmte. Ernesto Che Guevara

As condições da Sierra permitiam já uma vida livre num território mais ou menos amplo. Este território não era ocupado habitualmente pelo exército e, muitas vezes, não era sequer pisado por sua planta, mas não tínhamos organizado um sistema de governo o suficientemente amplo e estrito como para impedir a livre ação de grupos de homens que, sob o pretexto da ação revolucionária, se dedicavam à pilhagem, ao banditismo e a toda uma série de ações delituosas.

Aliás, as condições políticas da Sierra ainda eram bastante precárias; o desenvolvimento político de seus habitantes era muito superficial e a presença de um exército inimigo, ameaçador, a pouca distância não permitia superar estas deficiências.

Deixamos transitoriamente a zona dirigindo-nos com nossas forças na direção de Los Cocos, sobre o rio Magdalena, onde devíamos juntar-nos com Fidel e capturar todo um bando, que sob as ordens do chinês Chang, esta arrasando a região de Caracas. Camilo que tinha para com a vanguarda, já tinha vários prisioneiros quando chegamos a esta zona onde permanecemos em total cerca de dez dias. Ali, em uma casa camponesa, foi julgado e condenado a morte o chinês Chang, chefe de um bando que tinha assassinado camponeses, que tinha torturado outros e que se tinha apropriado do nome e dos bens da Revolução semeando o terror na comarca. Junto com o chinês Chang foi condenado a morte um camponês que tinha violado a uma moça adolescente, também valendo-se de sua autoridade como mensageiro do Exército Rebelde e junto com eles foram julgados uma boa parte dos integrantes do bando, constituida por alguns moços provenientes das cidades e outros camponeses que se tinham deixado tentar pela vida livre, sem sujeição a nenhuma regra e, ao mesmo tempo, regalada que lhes oferecia o chinês Chang.

A maioria foi absolvida e com três deles se resolveu dar uma lição simbólica; primeiro foram justiçados o camponês violador e o chinês Chang, ambos serenos, foram atados nas varas do monte e o primeiro, o violador, morreu sem que o vendassem, de face aos fuzis, dando vivas à Revolução. O chinês confrontou com toda serenidade a morte mas pediu os auxílios religiosos do padre Sardiñas que nesse momento estava longe do acampamento.

Logo realizou-se o fuzilamento simbólico de três dos moços que estavam mais unidos aos abusos do chinês Chang, mas aos que Fidel considerou que devia dar-lhes uma oportunidade; os três foram vendados e sujeitos ao rigor de um simulacro de fuzilamento; quando depois dos disparos ao ar se deram conta os três com que estavam vivos; um dele deu-me a mais estranha e espontânea demonstração de júbilo e reconhecimento em forma de um sonoro beijo, como se estivesse em frente a seu pai.

Poderá parecer agora um sistema bárbaro este empregado pela primeira vez na Sierra, só que não havia nenhuma sanção possível para aqueles homens aos que se podia salvar a vida, mas que tinham uma série de faltas bastante graves em seu haver. Os três ingressaram no Exército Rebelde e de dois deles tive notícia de seu comportamento brilhane durante toda a eapa insurrescional. Um pertenceu durante muito tempo a minha coluna e nas discussões entre os soldados, quando se julgavam atos de guerra e alguém punha em dúvida alguns dos que narrasse, dizia sempre com marcada ênfase: "eu sim que não lhe tenho medo à more e o Che é testemunha", lembrando o episódio de seu fuzilamento.

No fim de outubro de 1957 voltamos a estabelecer-nos em El Hombrito para iniciar os trabalhos que deviam dar lugar a uma zona fortemente defendida por nosso exército. Tinham chegado dois esudantes de La Habana, um de engenharia e outro de ciência veterinária e com eles começamos a estabelecer os planos de uma pequena hidroelétrica que trataríamos de construir no rio de El Hombrito e a sentar as basesdo periódico "manbí". Para isto havia um velho mimiógrafo trazido da planície no qual se editaram os primeiros número de El Cubano Libre.

Ali, amparados pela aberta generosidade dos vizinhos de El Hombrito e, sobretudo, de nossa boa amiga a "velha" Chana, como dizíamos todos, começamos a desnvolver nossa vida sedentária e construímos, por fim, o forno de pão, dentro de uma choupana abandonada para que a aviação não detectasse nenhuma construção nova. Aliás, mandamos preparar uma imensa bandeira do 26 de Julho que tinha um lema: Feliz Ano 1958, a que foi posta em uma das lajes cimeiras de El Hombrito, com a inenção de que vista inclusive pelos povoadores das Minas de Bueycito, enquanto percorríamos a zona para ir sentado uma autoridade real sobre ela e preparávamos-nos a afrontar a já iminete invasão de Sánchez Mosquera.

Próxima passagem da guerra revolucionária: O Combate de Mar Verde