BLOQUE ZONA LIVRE em Construção

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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Carta de despedida de Guevara à Fidel

Setembro, mês Amílcar Cabral









Ano da Agricultura, Havana.

Fidel,

Recordo-me nesta hora de muitas coisas: de quando te conheci na casa de Maria Antonia, de quando você me propôs vir, de toda a tensão dos preparativos.


Um dia passaram perguntando a quem se devia avisar em caso de morte, e a possibilidade real disto nos golpeou a todos.


Depois soubemos que era certo. Que em uma revolução se triunfa ou se morre (se é verdadeira).


Muitos companheiros caíram ao longo do caminho à vitória.

Hoje tudo tem um tom menos dramático porque somos mais maduros, porém o fato se repete.


Sinto que cumpri a parte de meu dever que me atava à Revolução Cubana em seu território e me despeço de ti, dos companheiros e de teu povo que já é meu.


Faço uma formal renúncia de meus cargos na Direção do Partido, de meu posto de Ministro, de meu grau de Comandante, da minha condição de cubano.


Nada legal me ata a Cuba. Só laços de outros tipos que não se podem romper como as nomeações.


Fazendo um balanço de minha vida passada, creio haver trabalhado com suficiente honradez e dedicação para consolidar o triunfo revolucionário.


Minha única falta, de alguma gravidade, é não ter confiado com mais firmeza em ti desde os primeiros momentos da Sierra Maestra, e não haver compreendido, com suficiente celeridade, as tuas qualidades de condutor e de revolucionário.


Vivi dias magníficos e senti a teu lado o orgulho de pertencer a este nosso povo nos dias luminosos e tristes da Crise do Caribe.


Poucas vezes brilhou mais alto um estadista que nesses dias. Orgulho-me também de haver te seguido sem vacilações, identificado-me com a tua maneira de pensar e de ver e apreciar os perigos e os princípios.


Outras terras de mundo reclamam o concurso de meus modestos esforços. Eu posso fazer o que te está negado por tua responsabilidade à frente de Cuba e chegou a hora de nos separarmos.


Saiba que o faço com uma mescla de alegria e dor. Aqui deixo a mais pura de minhas esperanças de construtor e o mais querido entre meus seres queridos... e deixo um povo que me admitiu como um filho: isso corta una parte de meu espírito.


Nos novos campos de batalha levarei a fé que me ensinou o espírito revolucionário de meu povo e a sensação de cumprir com o mais sagrado dos deveres: lutar contra o imperialismo onde queira que esteja. Isto reconforta e cura com vantagens qualquer partida.


Digo uma vez mais que libero Cuba de qualquer responsabilidade, salvo a que emane de seu exemplo.


Se acaso me chegar a hora definitiva sob outros céus, meu último pensamento será para este povo e especialmente para ti.


Agradeço por teus ensinamentos e teu exemplo aos quais tratarei de ser fiel até as últimas conseqüências de meus atos.


Estarei identificado sempre com a política exterior de nossa Revolução e sigo estando.

Onde quer que eu esteja sentirei a responsabilidade de ser revolucionário cubano, e como tal atuarei.


Não deixo a meus filhos e a minha mulher nada material e não me entristeço: me alegra que assim seja. Não peço nada para eles, pois o Estado lhes dará o suficiente para viver e educar-se.


Teria muitas coisas que dizer a ti e a nosso povo, porém sinto que não são necessárias: as palavras não podem expressar o que eu desejaria dizer, e não vale a pena borrar papéis.


Até a vitória sempre.

Pátria ou Morte!

Abraço-te com todo o fervor revolucionário.

Che

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